Projeto Vozes: juízes federais escutam relatos sobre preconceito e discriminação racial

Secom JFAL

Juiz federal Antônio José e juíza federal Flávia Mendonça escutam relatos de quem sofre racismo e preconceito
Crédito da foto: Secom JFAL

O racismo dói. O preconceito de raça machuca na alma. A pessoa branca nunca sentirá o que a pessoa negra sofre. Afirmações como essas fazem parte do dia a dia de pessoas negras, que percebem os olhares diferentes, os comentários ou as “brincadeiras e piadas” preconceituosas. Relatos desse tipo foram apresentados aos juízes federais Antônio José Araújo e Flávia Hora de Mendonça, durante visita ao Coletivo de Mulheres Pretas, na tarde da última sexta-feira, 1º. Os magistrados foram ao local para colher os depoimentos e preparar a próxima etapa do Projeto “Vozes: narrativas sociais e diálogos com o Sistema de Justiça”. A sétima edição do projeto acontece na próxima terça-feira, 12, a partir das 14h, no auditório da Justiça Federal em Alagoas (JFAL), na Serraria.

Coordenador do Projeto, o juiz federal Antônio José destacou a força dos relatos. “Neste mês de novembro, dedicado à Consciência Negra, teremos a oportunidade de reunir pessoas que sofreram ou que ainda sofrem com as situações de racismo e preconceito”, adianta o magistrado. “Ouvimos relatos fortes e emocionantes. E queremos levar essas realidades para o conhecimento das pessoas que formam o sistema de Justiça, a fim de ampliar a compreensão de juízes e juízas, promotores e promotoras, defensores e defensoras públicas, e estudantes de Direito, a fim de que saibam mais profundamente quando houver a necessidade de tratar, de alguma forma, casos como esses”, completa o juiz federal Antônio José Araújo.

Impacto de depoimentos

A juíza federal Flávia Mendonça destacou o impacto dos depoimentos e a riqueza que o Projeto Vozes irá proporcionar, na terça-feira da próxima semana. “Tenho participado de outras edições do projeto e os depoimentos são enriquecedores. Nesse, sobre o Mês da Consciência Negra, não será diferente. Os casos de racismo e de preconceito racial estão presentes no nosso dia a dia e é preciso tratar disso da forma mais transparente possível”, afirma.

Marlene Santos foi uma das que conversou com os magistrados. Ela trabalha desde os 17 anos de idade. Agora, com mais de 60, sobrevive com um salário mínimo, o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Vítima de paralisia, ajudava a mãe, doméstica. “Chegava da escola, ainda pequena, direto para a cozinha para ajudar minha mãe. Ouvi muitas vezes, agressões do tipo ‘essa negrinha não serve nem pra trabalhar’, devido à paralisia. Uma pessoa branca jamais saberá o que sofre quem tem pele preta”, conta ela, com lágrimas nos olhos.

O Coletivo de Mulheres Pretas está ligado ao Instituto Amigos da Periferia. Localizado no Complexo Residencial Benedito Bentes II, o local oferece cursos de formação, a exemplo de padaria e artesanato. Em parceria com órgãos governamentais, oferece serviços de educação e de saúde.

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