Pescadores reconquistam acesso à praia
Pescadores de Ipioca comemoraram, na última sexta-feira, 2 de março, o fim de uma luta iniciada há dois anos pelo direito ao livre acesso à praia e ao mar. A inauguração de um corredor de 2,5 metros de largura, entre o Hotel d*Anatureza e o terreno baldio de um sítio antigo, permitirá a passagem deles ao local de trabalho. O espaço parece pequeno, mas é suficiente para eles levarem os instrumentos de trabalho até o mar.
A abertura foi determinada pela Justiça Federal, numa ação movida pelo Ministério Público atendendo reclamações dos pescadores, apoiados por entidades da categoria (Federação e Colônia), e pela própria Secretaria Municipal de Proteção ao Meio Ambiente (Sempma).
De acordo com os pescadores Genival Basílio e Paulo Jorge, que iniciaram a luta pela reabertura do acesso à praia, nos últimos dez anos a categoria vinha sendo obrigada a enfrentar um desvio de dois quilômetros para passar debaixo de cercas de arame farpado com carros de mão, isopor e rede de pesca. Depois de todo esse sacrifício, chegavam ao ancoradouro dos barcos.
Eles destacam que o segredo foi acreditar num direito que tinham e lutar por ele. No começo éramos só nós dois. Depois fomos ganhando apoio e nunca desistimos, diz Genival.
Para o presidente da Federação dos Pescadores do Estado de Alagoas, Benedito Roque, mais conhecido como Bida, essa reabertura é uma riqueza para os que vivem dentro da organização de pesca, porque leva a outras questões pela reconquista do espaço dos pescadores.
O que se vê hoje é o crescimento da especulação imobiliária nos terrenos da Marinha. O pescador foi expulso da beira-mar. Em Paripueira, por exemplo, os que moravam pertinho da praia estão pendurados em barreiras, diz Bida.
O secretário municipal de Meio Ambiente, Ricardo Ramalho, também acredita que a vitória dos pescadores de Ipioca pode deflagrar uma série de demandas jurídicas pelo mesmo motivo. Acho que pode, inclusive, estimular uma ação conjunta de vários governamentais para garantir a abertura de vários acessos, afirma Ramalho.
Para o juiz federal titular da 1ª Vara, responsável pelo processo na Justiça Federal, Leonardo Resende Martins, são iniciativas como essa, baseadas no diálogo e no consenso, que culminam com decisões que favorecem a coletividade. Segundo o magistrado, tais ações atendem aos reclamos da sociedade e cumprem assim o papel da Justiça.
E para servir de exemplo, na entrada do recém-inaugurado acesso foi colocada uma placa com os dizeres. Acesso à Praia de Ipioca. Luta e vitória dos pescadores.
Fonte: Gazeta de Alagoas (Edição de 03/03/2007)